06 março 2009

Justamente por

Chove enquanto escrevo, ou justamente por.

Seu Tranca já me dizia na escuridão do barracão que é coisa besta resmungar sozinho, chamar ontem de hoje e tumultuar a festa dos outros, aí eu falei que passado era passado e que eu jogava tudo pra trás por cima do ombro esquerdo que nem bituca de cigarro barato, que nem bagaceira de laranja, que nem osso de galinha preta.

Mas Exu sabe o que diz, Exu sabe o que vê, e menino besta fica na cadeira sozinho bebericando e resmungando a noite toda, achando que ontem ainda é hoje e que a festa é toda dele, e aí chove porque o céu também fica triste quando vê coisas assim, e ele chora junto pra tudo ficar mais fácil de descer, pra todo mundo achar que e água doce e que não é mar que sai dos olhos, que não é mar não.

Hoje também chove, e o céu tá todo de boas intenções achando que é mar que vem de novo, que o menino besta ali sentado, ali resmungando, ali bebericando achando que ontem é hoje, vai fazer uma festa toda pra ele, mas aí o menino olha nos olhos do céu e diz pra ele relaxar que nem tem ninguém olhando, que hoje nem tem festa, que só tem água na garrafa, que hoje não tem mar, que hoje só vai ter um riachinho manso.

Choro enquanto escrevo, ou justamente por.

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