17 fevereiro 2009

O quarto escuro

Passei um bom tempo na luz, esse fim de ano teve bastante sol apesar de tanta chuva - inclusive, às vezes, os dois ao mesmo tempo -, e eu acho que a luz está começando a me incomodar, ou pelo menos essa brincadeirinha toda de que um dia claro é um dia feliz; a minha cabeça dói, a luz entra com força e com violência pelas vidraças, ela procura um espelho, ela procura um móvel bem polido pra poder se lançar certeira e maldita e se enterrar no fundo dos meus olhos.

Esse quarto era pra ser escuro, com aquele cheiro de abandono que faz tão bem às tragédias que criamos no papel e na cabeça, com aquela cumplicidade mórbida, com cantos a esconder coisas da noite, com bichos que se escondem atrás da estante, com aquele silêncio que dói nos ouvidos, o silêncio agudo e estridente que sopra leve na nuca as idéias que não vêm de cima.

É difícil se equilibrar nesse jogo de se afogar em um mar de angústia - que nem precisa ser nosso - e de nadar pra águas mais calmas quando cansamos de brincar de abismo, e às vezes uma coisa gruda forte no corpo e deixa a segurança de uma caverna ou de uma praia, e aí o que aparece é uma coisa totalmente nova, um peixe de águas profundas flutuando com a corrente, ou uma vela acesa no centro desse quarto.

Ultimamente tenho passado um bom tempo na luz, uma luz que me persegue, que não me deixa afundar por completo nessa bolha de melancolia que me foi tão fiel companheira, que não me deixa perder de vista a distância entre as minhas mãos e as paredes, entre meus pés e o chão, uma luz mais suave, mais tímida, mais persistente.

Um dia claro nem sempre é um dia feliz, mas felicidade também ilumina.

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