14 julho 2010

Desses homens

Sou desses homens que não choram em cena, mais pra Woody do que Penn, desses homens criados com mertiolate e ovos no café da manhã, homens que usam canetas e não se importam se a borracha não pode consolar, homens que dormem sem pijamas com a roupa do dia já quente pro dia seguinte, sou um desses homens que tem ossos duros e canelas afiadas a lascar as canelas das mesas, sou desses homens que não tem gatos, homens com histórias de coisas distantes e outros mundos de fantasia, rudes, barbudos, de olhos baços e lábios ressecados, desses homens sem pressa e de caminhar pesado, de pés sempre nos mesmos sapatos.

Sou um desses homens que não choram em cena, porque é no choro que a cena acaba, sem fôlego pra mais nada além da vergonha, além do ensaiar impotente de qualquer coisa que nem sei; desses homens criados com mertiolate no joelho e beijos de mãe na testa, de ovos cozidos em xícaras de café floridas; sou desses homens que usam canetas em cartas de amor, porque o amor é uma coisa que borracha nenhuma apaga; sou desses homens que dormem sem pijamas na frente da TV, escutando música, cheio de sonhos e carinhos; sou desses homens que tem ossos duros e canelas afiadas, deitado de meias de lã me esfregando nos pés macios dela; sou desses homens que ainda não tem gatos, mas que já tem nomes e vontades guardadas no bolso; sou desses homens com histórias de coisas distantes, de cidades de infância, rudes por serem Homens, barbudos pelo sangue, de olhos baços e lábios ressecados nessa madrugada profunda sob as cobertas a dividir histórias e o frio; sou desses homens sem pressa e de caminhar pesado, meio sem ter pra onde ir, meio não querendo ir pra lugar nenhum, de pés sempre nos mesmos sapatos - as pantufas dela que ficaram pra trás.

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