12 novembro 2008

De quem era a vez?

"A noite toda, danças insinuantes, uma troca de olhares, conversas triviais mas nenhuma palavra sequer foi proferida sobre essa sensação e angustia que ambos sentem.

Festa chegou ao fim. Todos já abandonaram a casa, menos ela que sempre fica pra arrumar a desordem."

[...]

Respiravam pela boca alheia, enchiam os pulmões com o ar gasto pelo cheiro de reservas, dos perfumes aguados de suor; detiveram-se, frente a frente as narinas condensavam todo o esforço dos músculos adormecidos de vinho e de desejo, ofegavam ainda que em silêncio, o ar constrangido na garganta pela angústia dos culpados. O luar opaco filtrado pelas cortinas desbotava todas as cores n'um acordo tácito com os olhos vermelhos e magoados pelo cigarro: carmim fez-se azul, a pele prateada despontava cá e lá uma faísca moribunda do encontro súbito da água salgada e da luz da cidade que ameaçava silenciar, tão logo toda essa paisagem se construía furtiva, sem anuncio e sem convite, os olhos foram cerrados sem retorno, na demasiada proximidade que o desejo incita, na delicadeza do toque que cede à violência dessa necessidade que não sabemos construir nos sufixos dos dias, mas tão somente na entropia das madrugadas.

Beijaram-se lentamente, delicadamente, apaixonadamente como tão cedo aprenderam a ensaiar, mas os corpos não sabem mentir; os dentes a cavarem os lábios em fogo, essa sede de mãos e pernas, de suor, que não se sacia com a etiqueta dos salões, que quer mais, sempre mais, como se boca à boca faltasse, e é preciso mais, até fazer brotar o sabor de ferrugem, até a boca não conseguir mais oferecer o que o corpo todo precisa.

Os braços contraídos tremiam no limite das forças, as unhas enterradas na pele, os quadris encurralados contra a cama, silhuetas desenhadas na ponta dos dedos: o ombro nú, o decote descuidado revelando mais e mais, as curvas agudas dos ossos contra a pele a macia, mapeando até não mais poder continuar sem se perder, a seda que se enrola sobre as coxas, botões se perdendo por descuido, o cinto de couro, ainda quente, serpenteando dos lençóis até o chão.

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your turn ;)

Um comentário:

.may disse...

Valeu a pena os seis meses de espera pra ver o retoque que vc deu ao texto. E vai ser bem dificil prosseguir depois de todo esse primor. Mas posso tentar.
Não importa sua ordem, com pormenores ou não... Porque no fundo, só nós entendemos a minuciosidade das linhas. Ou então, talvez vc já saiba o final ;)