29 novembro 2008

O fundo da gaveta #3 (ou O fim dos tempos)

As nuvens já não choram, suas almas secas não têm mais dor para despejar sobre o mundo, mas o luto persiste; abandonam uma a uma o palco celeste em silêncio a anunciar, talvez, a angústia por detrás desse último horizonte de serenindade, pacífico e alheio, como a ignorar o irrefrável do fim dos tempos, sem sete anjos, mas com sete selos já gastos depois de uma eternidade que se encerra, que sim, que nasceu há muito e agora se encerra, pois o tempo se estende sem razão quando razão já não temos, e não a tínhamos há muito. Luxúria, Soberba, e demasiada Preguiça para o Mal, por vezes nossa própia perversidade fez-se salvação, falta tamanha que nos impediu de tornar a cova excessivamente funda - sempre mantivemos as bordas do arrependimento ao alcance das mãos -; hoje, no entanto, ruína. Ruína em meus pés, um deserto de potências; prédios, casas, templos, todos ainda resistem lá fora, às criaturas sem nomes que nos consomem a essência, que enfraquecem nossas mentes e fazem sal o coração, mas a ruína dos seres acumulou-se mais alta que as esperanças, mais alta que os gritos de socorro, mais alta que a mais alta das torres.

A nova Babel corrompe em todas as línguas.

[ ]

Nenhum comentário: